Na semana em que se comemora o Dia do Índio, o artista plástico Litho Silva contou com o apoio da Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo (SECET), para realizar a instalação “A.própria.ação”, na Biblioteca Maria Feijó.
De acordo com Litho Silva, a instalação, com gaiolas suspensas, expressa o paradigma da apropriação de signos da cultura indígena, por parte das pessoas que, de modo geral, não têm consciência do caráter simbólico, de significância, dessas ações. “O que a gente vem fazendo? A gente vem se apropriando dos elementos dos povos indígenas, colocando na nossa gaiola, sem valorizar, sem entender o ato marginal que isso significa”, pontuou o artista.
A essência do trabalho exposto está em consonância com a ideia do termo “Alagoíndio”, criado pelo artista para enfatizar as características desse povo miscigenado que, no século XVI, era chamado de negro, mas que carrega não apenas raízes africanas em sua origem. “Quando Marquês de Pombal chegou aqui, todos os índios foram batizados e ganharam o nome cristão. Eram chamados de brasilíndios. Então, [somos] alagoíndios”, explicou.
Autodidata e estudioso de uma vasta produção dos povos tupinambás, Litho Silva buscou no estudo comparativo de dados arqueológicos e etnográficos a substância de suas obras. E as intervenções que traz para público carregam não apenas a ideia de resistência, mas a reflexão sobre a cultura que constitui o povo brasileiro.
Foi pensando no debate sobre a importância de se valorizar as raízes dos povos e de ampliar as discussões sobre identidade cultural, sobretudo no período em que se comemora o Dia do Índio, que o poder público municipal apoiou a iniciativa, abriu espaço para debates e levou o pesquisador para apresentar, aos alunos da rede municipal de ensino, a explanação “Alagoíndio, o Negro da Terra”. A apresentação foi permeada por informações sobre a intensa influência indígena em Alagoinhas.
Para a professora Iraci Gama, vice-prefeita do município, Litho Silva é um cidadão que contribui efetivamente para o debate sobre cultura em Alagoinhas. “Esta luta pela divulgação da importância de cultivar, conhecer e valorizar as nossas raízes indígenas é uma luta antiga, mas que foi tomando corpo à medida em que Litho resolveu enveredar por essa área de estudo com um afã muito grande de encontrar as nossas bases verdadeiras de identidade”, afirmou durante o encerramento da instalação, nesta sexta-feira (20).
Desde a última terça-feira (17), alunos do Colégio Santíssimo Sacramento, da escola Luiz Navarro de Brito e do CETEP tiveram acesso à intervenção artística e às discussões com Litho Silva.
O encerramento, na manhã de hoje, contou com a participação de funcionários da SECET e de outros pesquisadores da área. Litho Silva informou que, em outubro, as obras estarão no maior museu de arte do mundo, o Museu do Louvre, em Paris. “Tem até um axioma que diz ‘pinte seu quintal e torne-se internacional’”, brincou o artista, que há 18 anos resolveu assumir a arte como estilo de vida e agora projeta Alagoinhas para o cenário internacional.