A Escola Municipal Comunitária Nova Esperança, na comunidade do Taizé, região periférica de Santa Terezinha, retornou suas atividades em tempo integral, após mais de dois anos de pandemia. A unidade, que funciona por meio de um convênio com a Secretaria Municipal da Educação (SEDUC) e a ONG Fundação do Caminho, é a única escola municipal da zona urbana dessa modalidade de ensino, ofertando um trabalho diferenciado que visa o desenvolvimento educacional e social das crianças.
Com um histórico muito especial, a Nova Esperança inclusive servirá de base para outras iniciativas da SEDUC, que pretende promover avanços nesse sentido, tornando-os realidade para outras localidades, dentro de um plano de ação crescente. No turno integral, além das atividades do currículo comum, pela manhã, com os professores da rede, e no contraturno, a partir do meio dia, os 407 estudantes contam com atividades como capoeira, dança, música, percussão, artes plásticas, informática, reforço escolar das disciplinas de Português e Matemática, oficina de libras e recreação.
A escola também é pioneira na Educação Inclusiva no município, e continua sendo referência para toda a região pela qualidade da atenção e recursos pedagógicos utilizados para o desenvolvimento das potencialidades de estudantes com deficiência (intelectual, física, auditiva, visual e múltipla) e transtorno do espectro autista (TEA).
Já há alguns anos, a Secretaria Municipal de Educação tem convênio com a Fundação do Caminho, responsável pela unidade de ensino, mas agora essa relação se intensifica para dar um maior suporte a nova modalidade que se quer desenvolver. Nessas décadas, tanto atendendo ao público especial, quanto abrigando, centenas de crianças em dois turnos, criou-se nesse centro escolar a expertise, a vivência prática e o sentimento para servir de base para essa virada radical no processo educacional, que poucos municípios, no país e sobretudo nos estados mais carentes, tiveram a coragem de implementar.
A diretora Andrea Lisboa considera ser importante partir de uma experiência concreta para se evitar erros comuns ao processo de adaptação, pois trata-se, segundo ela, de uma forma de educar completamente diferente que requer mais responsabilidade, mais comprometimento e envolve uma complexidade logística toda especial.
Ela conta que o segredo realmente está na capacitação. A escola passou por formação com profissionais de outros estados e até de fora do país. “Fazemos planejamento quinzenal, e capacitação continuada interna além de participar da formação oferecida pela rede pública. Dialogamos sempre com a Seduc para que os profissionais que são destinados à escola estejam em condições de absorver nossa filosofia de trabalho holística, voltado para cidadania crítica, fraterna e participativa”.
A escola em tempo integral é um desafio mas também traz muitos benefícios. As crianças ingressam aos quatro anos de idade na pré-escola e saem de lá após sete anos, em um convívio diário. “Sabemos bem mais sobre a personalidade de cada aluno e seu perfil cognitivo e suas aptidões. As atividades artísticas desenvolvem o emocional delas, cria senso de responsabilidade, de cooperação de e atinge-se bem mais conhecimento vinculado à prática, não só de forma abstrata. Aqui conhecemos bem mais as famílias, procuramos orientá-las e estimulá-las para que façam parte da educação dos filhos. Fazemos apresentações em nosso pequeno teatro, isso mexe com a autoestima dos alunos, motiva os pais e faz com que toda comunidade a um novo olhar para a educação. Também altera-se a percepção de coletividade, de solidariedade. Claro que a espiritualidade da Monastério de Taizé contribui para essa formação integral. A Escola Nova Esperança é simples, mas é ampla, fica em uma rua tranquila e arborizada.
Simone Anunciação Santos é vice-presidente da Fundação do Caminho. Ela conta que se sentiu necessidade de criar um laço mais estreito entre a entidade mantenedora e a escola, para se ter respostas mais rápidas e assertivas para as demandas. Sua história teve início com um curso de catequese ainda adolescente no monastério, estudou até na França e hoje está, não em um gabinete, mas no dia a dia da sua comunidade em interação com todos que fazem a Nova Esperança acontecer, tudo graças a uma “sensibilidade do olhar do escutar que ajuda a humanizar o outro, antes se humanizando”.
Mãe de duas alunas da escola, a mais velha, Bruna Santos, com nove anos, com deficiência visual, Ticiane Santos conta que sai todo o dia do Estevão e, como outras mães que moram distantes, passa o dia na unidade escolar. Para elas foram destinados cursos profissionalizantes e até de Zumba. Após cinco anos, ela se vê satisfeita com a autonomia e a desenvoltura de sua filha, seu amadurecimento e sua inteligência e além disso a capacidade dela de interagir com outras pessoas. “Ela é uma criança muito feliz e já pensa em ser professora. Ela gosta muito da escola e melhorou muito em questão de fala, de andar e das atividades dentro de casa. Aqui eles me ensinaram a não ser uma mãe super protetora”.
O professor de música, violino e flauta doce, Jeferson Lopes mostra a importância de desenvolver a musicalidade desde muito cedo. “Fazemos atividades simples, como pedir para as crianças escutarem os sons por alguns minutos de silêncio. Eles falam que ouvem os pássaros, o vento nas árvores, os carros, pessoas falando, daí então passa a entender que isso são elementos que podem se transformar em música. Soprar tubos de diversas espessuras para ter noção de timbre. Dá para melhorar a noção de matemática contando os compassos e de português recitando a letra de uma música conhecida por todos”, conta. “Um aluno cego e muito tímido não conseguia participar da aula de guia, onde se aprende a andar sozinha. Aprendeu violino, flauta, até ouvir um sax. Perguntou se podia aprender e se buscou os meios para isso. Depois quis aprender flauta transversal, dominou dez notas, e o professor fez uma melodia com elas para ele se apresentar no teatro. Meses depois estava com seu sax se apresentando em um casamento. Depois de ter se descoberto com a música, retornou as aulas de guia por conta própria. Formou-se um artista e um cidadão. A arte educa as emoções, promove o autoconhecimento, motiva solidariedade e a sororidade, aprimora o raciocínio pela criatividade, a mente se estrutura para outras dimensões lógicas”, completou o professor.
Fotos: Roberto Fonseca – SECOM