Maria da Conceição Bastos Santos é uma entre os 102 associados da Cooperativa dos Pequenos Agricultores de Alagoinhas (COPAMA) e, embora o último censo agropecuário divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponte que o número de enxadas no campo diminuiu, com o maquinário que multiplica a capacidade de produção, ela faz parte da estatística que acredita no desenvolvimento através da agricultura familiar.
“Você está gerando emprego e renda através da permanência do homem no campo, que a gente consegue sobreviver com nossos produtos, oriundos da agricultura familiar. A COPAMA tem essa visão de buscar fortalecer a permanência do homem e da mulher na zona rural, porque hoje a gente vive em um país em crise de desemprego e grande saída está no campo”, pontuou a representante da cooperativa.
A visão dela segue o levantamento realizado pelo portal Governo do Brasil, que coloca a agricultura como um dos principais faturamentos anuais do mundo quando o quesito é produção familiar. Gerando um total de US$ 55,2 bilhões por ano só com esse tipo de produção, o Brasil ocupa posição de destaque entre o agronegócio mundial, conquistando a 8ª colocação entre países como China, Rússia, Indonésia e Japão.
Para se ter uma ideia, a agricultura familiar produz 70% do feijão nacional, 87% da mandioca e quase 50% do milho.
Na Bahia – unidade da federação com maior número de agricultores familiares do Brasil ¬– são mais de 665 mil estabelecimentos rurais de agricultores responsáveis, por exemplo, por 90% da mandioca plantada em todo o estado.
De onde vem tudo isso? Das mãos de gente como Dona Maria, S. Raimundo, Edmilson, Damiana, que plantam, colhem, vendem e fazem do cuidado ao solo uma fonte de renda e desenvolvimento.
Em Alagoinhas, que já foi historicamente chamada de “terra das laranjas”, se colhe – como diria o bom baianês – “de um tudo”: hortaliças, feijão, tomate, aipim, maracujá. “Se você for para a região de Boa União, vai achar batata doce, banana da terra. Se for pra Riacho da Guia, vai achar melancia, hortaliça, banana. Se for para Papagaio, vai achar outra variedade de hortaliças. Região do Ponto do Beiju tem o beiju. Para o Buri, também tem essa produção”, elencou Maria da Conceição.
Enxergando o desenvolvimento agrário, entendendo a importância das cooperativas e buscando formas de incentivar a pequena produção rural, a prefeitura de Alagoinhas, através da Secretaria Municipal de Agricultura (SEMAG) e da Secretaria de Desenvolvimento e Meio Ambiente (SEDEA), tem apostado em iniciativas que fomentem o setor.
Durante o mês de julho, por exemplo, a SEMAG tem feito a distribuição de caminhões com adubo orgânico às comunidades rurais, beneficiando milhares de famílias e contribuindo para o desenvolvimento sustentável na região. Até o início de agosto, serão 800 toneladas distribuídas que devem contemplar a mais de 40 comunidades. E a meta, segundo o secretário responsável pela pasta, é fazer ainda mais. “Temos que prover os agricultores do que eles mais necessitam. Por isso, nosso foco é a entrega de adubos, de sementes e a recuperação de estradas rurais. Vamos receber 5 mil quilos de semente de feijão de corda na próxima semana, de uma compra feita no Mato Grosso. Temos trabalhado incansavelmente para melhorar a vida do produtor da zona rural”, afirmou Geraldo Almeida.
Com o setor de desenvolvimento não tem sido diferente. O prefeito Joaquim Neto assinou, no início do mês, um contrato de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) que prevê a remuneração (financeira ou por serviço) a produtores rurais que adotem práticas sustentáveis de preservação ambiental na sua propriedade.
Na Bahia, Alagoinhas será o segundo município a implantar a medida, em um pioneirismo quando o assunto é produção sustentável no campo. “Isso significa dizer que Alagoinhas avança na proteção ambiental e na educação. Esse plano estabelece uma parceria com o homem do campo, o pequeno e médio produtor. Mais uma ação para o desenvolvimento da nossa cidade”, pontuou o secretário de desenvolvimento José Edésio Cardoso.
A agricultura familiar é responsável pela renda de 40% da população economicamente ativa do país e por mais de 70% dos brasileiros ocupados no campo. Fomentar o desenvolvimento do setor traz resultados positivos para o trabalhador rural e também para a população, de uma forma geral.
Os incentivos e insumos que chegam a Dona Maria ou a S. Raimundo geram resultados efetivos para o seu prato, para a sua comida e para a qualidade de vida da sua família, mas também para o crescimento econômico do município.
Quer saber o que Raimundo Reis Santana, do projeto Buracica Sustentável, de Alagoinhas, mais gosta no meio disso tudo? “É de ver o suor cair e meter a mão na terra”, comenta, sem ressalvas.
Na hora de falar sobre o cuidado com a terra, Maria da Conceição enfatizou a presença marcante da mulher no campo, que tem se dividido em jornadas de trabalho e se empoderado, liderando produções e comandando o espaço da renda na família. E aquele objetivo inicial de que ela falava, quando se referia à cooperativa – de melhorar a vida do homem e da mulher da zona rural – tem sido, segundo o prefeito Joaquim Neto, uma das prioridades da gestão municipal.
“A gente vem unindo esforços da agricultura, com a distribuição de adubos, do desenvolvimento, com a implantação de ações sustentáveis que contribuem para a saúde do solo, e do poder público para impulsionar o desenvolvimento da agricultura familiar. O agricultor familiar tem uma importância enorme para o crescimento da nossa cidade e para o desenvolvimento econômico, então a gente vem trabalhando com uma série de políticas públicas para que a tendência seja reduzir o êxodo rural e tornar a produção dos nossos agricultores cada vez mais eficiente”, finalizou o prefeito.