O arrasta pé que começou na última quarta-feira (12), com o tradicional Trem do Forró, em Alagoinhas, segue a todo vapor, na estação São Francisco, e este ano, a Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo (SECET), responsável pela iniciativa, trouxe uma nova palavra de ordem para os festejos juninos: inclusão.
Com foco em abarcar um número cada vez maior de participantes, em promover o compartilhamento, a socialização e a celebração democrática, conjunta, proporcionando a todos os moradores, sem distinção, uma viagem forrozeira pelos trilhos que contam um pouco da história da cidade, a Prefeitura convidou grupos da Pestalozzi, da APAE e de outros órgãos e instituições, como a Pastoral do Menor e o CAPS III, para a dança no Trem do Forró.
O resultado não poderia ter sido diferente: muita animação, forró e alegria durante todo o percurso programado.
“É a primeira vez e estamos aqui firmes e fortes para curtir. É uma oportunidade única. Muitos dos alunos da Pestalozzi não saem de casa, não costumam ir para nenhum espaço no São João e, quando são convidados assim, eles ficam muito felizes. É a primeira vez que eu estou indo. Eles estão empolgados”, afirmou Tânia Mascarenhas Santos Torres, da Pestalozzi, que participou do Trem do Forró com um grupo de 100 pessoas nesta sexta-feira (14).
O aluno Rodrigo Santos, que nasceu com Síndrome de Down e faz aulas de dança na Pestalozzi, foi categórico quando questionado sobre a proposta. “Estou alegre, porque vou passear de trem. É a primeira vez que estou vindo. Gosto muito da Pestalozzi. Sou dançarino da escola e vou dançar no trem”, revelou.
Embora nesta edição o vagão não conte ainda com adaptação específica para cadeirantes, por exemplo, ou plataforma elevatória, para facilitar a mobilidade, a SECET informou que já está em discussão, para o próximo ano, uma forma de abarcar essas necessidades e garantir, junto com a empresa VLI, uma viagem de qualidade para todos durante os festejos comemorativos de São João.
Feliz com o retorno de quem participou e surpresa com o número de instituições que, este ano, abraçaram a proposta do Trem do Forró, professora Iraci Gama, vice-prefeita e secretária municipal de cultura, esporte e turismo, sintetizou a sensação de ver o forró acontecendo sobre os trilhos: “emoção pura”.
Participante ativa dos debates culturais, defensora da memória, da diversidade e das manifestações tradicionais do município, Iraci Gama explanou sobre o valor simbólico do trem na cidade que tem a estação ferroviária como laço de identidade e falou sobre a alegria de reunir moradores e visitantes, grupos de mulheres, jovens e idosos, alunos das escolas municipais, da APAE e das instituições, reunidos nos festejos juninos da cidade.
“O que eu ganhei aqui de abraço e beijo não está em nenhum gibi. Mais do que nunca, sentimos que o trem precisa continuar”, declarou Iraci Gama, que aproveitou a oportunidade para comentar sobre a luta que começou logo após a suspensão do trem de passageiros no município, em 1989. “A cidade tem uma relação forte com o trem, é uma coisa que está dentro de nós. Filha das águas e do trem de ferro, Alagoinhas quer a volta do trem de passageiros”, ressaltou.
E, se na prática do dia a dia a reativação das linhas internas para a viagem de passageiros ainda enfrenta questões burocráticas, governamentais, na véspera do São João, o período de viagens proporciona, a moradores e visitantes, um “gostinho de quero mais”, em um percurso sobre os trilhos que é também uma viagem pela história da cidade.
“É a 1ª vez que venho ao Trem do Forró e tem muitos anos que andei de trem aqui, era mocinha ainda, então será um momento emocionante para mim”, relatou Maria Ivone da Silva Conceição, da Pestalozzi, antes da partida.
Pra quem chega e pra quem desembarca, após o trecho de 40 minutos, a recepção, na FIGAM, de onde saem os vagões, é a mesma: forró pé de serra do início ao fim. A trilha sonora fica a cargo de forrozeiros locais contratados pelo município com apoio da VLI e do Conselho Municipal de Cultura.
“O que eu sinto é que essa viagem que começou em 2017, como algo para nos distrair e para nos lembrar que somos uma cidade ferroviária, dizendo ao governo ‘nós queremos de volta o trem de passageiros’, virou uma coisa muito séria e, em 2019, estamos sentindo isso fortemente”, finalizou professora Iraci Gama.
A previsão, segundo a SECET, é de que 24 viagens sejam realizadas até o encerramento do Trem do Forró, neste domingo. O valor da passagem é uma lata de leite ou um pacote de fraldas geriátricas que podem ser trocados no local de partida.