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Mão de obra artesanal e o fomento a iniciativas: começou nesta terça-feira (17) o curso de bordado promovido pela Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo


17 de julho de 2018, 19:25

Nada de “época da avó”. Costurar, bordar, criar, alinhavar e montar podem render – em mãos habilidosas – uma boa quantia no final do mês. É que apostando em produtos de qualidade e no cuidado do trabalho manual, único, produtores artesanais têm conquistado bons resultados diante do complexo cenário econômico que parece cada vez mais atrelado à escala industrial de confecção e à inovação.

E se surpreende que no atual ritmo acelerado de descarte ditado pela obsolescência programada dos artigos à venda ainda haja espaço para as iniciativas do trabalho manual, quem atua no ramo tem a experiência a seu favor: os anos de costura à mão rendem modelos exclusivos feitos sob medida que ajudam na hora de conquistar a clientela.

Gente como Maria Dálvida Silva dos Anjos, de 85 anos, que há 45 trabalha com costura no interior. O conhecimento que gera renda e compartilhamento não tem tido tanta visibilidade na concorrência com o ensino acadêmico, com as graduações e cursos técnicos, tão esperados pelos jovens da “geração z”, hiperconectados da era digital, mas a procura pelo toque cuidadoso e o empenho na hora de transmitir o saber garantem a continuidade do processo artesanal. “Quando eu ensinei na Congregação da igreja, teve uma pessoa que vendeu 14 toalhinhas. Aquilo para mim era uma alegria. Quando terminou o curso, ela já tinha vendido 14. Feliz da vida. Nunca cobrei um real, não cobro, não quero. Quantas pessoas vão lá em casa? Aprendi tudo pela revista”, explicou.

Foi com o esse intuito – de ensinar e de valorizar o trabalho artesanal, fomentando as iniciativas que podem gerar renda – que a Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo (SECET), iniciou, nesta terça-feira (17), as atividades do 1º curso de bordado livre, ponto cruz e vagonite, oferecido gratuitamente à comunidade.

Quando começa a aula, professor também vira – por que não? – um pouco aluno. Tudo é permitido na hora do compartilhamento. E aí Dona Maria Dálvida, que já ensinou na igreja, nos congressos e em casa, senta como aluna, no Mercado do Artesão, para ouvir atenta as dicas da professora Maria José Silva Dantas, responsável pelo curso ministrado. “Eu vim para me aperfeiçoar mais, para pegar outras coisas”, pontuou Maria Dálvida.

A professora Maria José, popularmente conhecida como “Zitinha”, mora no Rio de Janeiro e tem ampla experiência com cursos de bordado em Volta Redonda. “Sou filha daqui. Meus pais são daqui, meus avós são daqui. Então tem 45 anos que estou em Volta Redonda. Estive aqui ano passado e não vi esses cursos. Há muitos anos eu dou aula lá. Aí eu pensei ‘a minha terra e eu ensinando na terra dos outros’. Disse ‘vou ver se consigo ensinar alguma coisa aqui para deixar um legado, que aqui eu sei que vão sair muitas professoras’. Eu tenho professora dando aula na Itália, tenho professora dando aula em Portugal. Daqui vai sair um bocado, você vai ver”, assegurou.

A atividade tem 2 meses de duração e a aula desta terça foi apenas a primeira de uma série que deverá ocupar o Mercado do Artesão, no centro da cidade, às terças e quintas-feiras, no período da tarde.

Com todas as vagas preenchidas e uma extensa lista de espera de interessados que buscam uma nova oportunidade nessa área, parece que o curso da professora “Zitinha” tem um futuro próspero na cidade. “A gente ensina, a pessoa aprende e tem muita gente que vem me agradecer, dizendo que já cuidou dos filhos, está tendo comércio pequeno. Tenho muita gente que já tem loja. Lá no Rio tem 42 anos que eu estou ensinando em vários lugares, tudo como voluntária. A obrigação é só minha. Deus me deu de graça, por que é que eu vou ensinar pago? Aqui é a primeira vez que ensino. Fico aqui até o final do ano. Já vou deixar muita gente ensinando, com certeza”, afirmou.

As alunas aplicadas, como Iracema de Almeida Ferreira, agradecem e enxergam, a partir do aprendizado, ainda mais perspectivas para o crescimento. “Trabalho com costura e venda há mais de 20 anos. A costura eu aprendi vendo minha mãe fazer. Hoje em dia trabalho com 4 máquinas: overloque, galoneira industrial, de bobina mágica e vigorelli, que é de costura pesada, para reformar capacete, por exemplo. Eu comecei a empreender de 2004 pra 2005, que foi quando investi mesmo em costura. Antes, eu era cobradora de ônibus”, comentou.

Há 23 anos, quando foi dispensada da empresa rodoviária para a qual trabalhava e com um filho de 9 anos para criar, Iracema precisou se reinventar. Encontrou no artesanato uma fonte de renda possível e apostou as fichas, investiu no tecido trabalhado. Virou consultora, vendedora, mãe, avó. E costurou, na própria história, uma nova forma de empreender. “Agora foi que eu vim. Eu não tenho mais filho pequeno e as horas vagas eu praticamente fico só em casa. Vou me desenvolver”, contou.

Em todo o país, cerca de 8,5 milhões de brasileiros fazem do artesanato o seu pequeno negócio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Juntos, esses microempreendedores movimentam mais de R$ 50 bilhões por ano. Um número significativo para quem aposta no acabamento e da identidade cultural da região onde a peça é produzida.

Como garantir a competitividade e fazer enxergar o artesanato enquanto atividade econômica? O primeiro passo, segundo a professora, é o aprendizado coletivo. “Um aluno ensina o outro. O outro ensina também. E a gente vai fazendo um círculo vicioso de artesanato”, finalizou.

Em Alagoinhas, o curso ministrado deve trabalhar com 3 pontos principais: bordado livre, vagonite e ponto cruz. As inscrições para a turma estão encerradas, mas a secretaria informou que, dada a alta procura, deve realizar novas atividades que serão divulgadas ainda no segundo semestre deste ano.

Curso de bordado livre, ponto cruz e vagonite - SECET

 

 

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