“A gente quer providência”. A reivindicação da moradora Jailma Pereira, do Cangula, tem números. Três mulheres são vítimas de feminicídio a cada dia no Brasil. Os índices registrados mostram que as principais vítimas continuam sendo as mulheres negras. De acordo com o Mapa da Violência de 2015, o homicídio de mulheres negras aumentou 54% em 10 anos, enquanto o homicídio de mulheres brancas caiu 9,8%. A Organização das Nações Unidas aponta que um terço das mulheres de todo o mundo já sofreu ou vai sofrer situação de violência ou abuso de algum tipo.
E quando se cruza os dados da desigualdade de gênero com os registros de violência contra quilombos, no Brasil, a situação é ainda mais grave. Um levantamento da ONG Terra de Direitos e da Confederação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) aponta que, de 2016 a 2017, o número de assassinatos de quilombolas no país aumentou 350%.
A violência tem números, tem voz, nomes, cor e endereço. E foi com foco em ouvir e trazer para a centralidade do debate essas questões que a Prefeitura participou, esta semana, de uma Roda de Mulheres na comunidade do Cangula.

Foto: Lázaro Zachariadhes
Abordando assuntos como equidade de gênero, desconstrução do machismo, empoderamento feminino, violência doméstica, assédio, protagonismo da mulher, violência, saúde pública, invisibilidade, identidade e geração de emprego e renda, a Roda de Mulheres do Cangula uniu poder público, comunidade e instituições para buscar alternativas que combatam a opressão, a exclusão, e incorporem novas vozes, pensando coletivamente propostas, intervenções, e políticas públicas para as mulheres quilombolas.

Foto: Lázaro Zachariadhes
“Quando vem esse tipo de debate pra cá, abre espaço para que nós, mulheres quilombolas, possamos reclamar do que nos faz falta e fazer essas petições. Às vezes, a gente sente falta e não tem a quem reclamar, então quando vem um debate como esse, reivindicamos diretamente com as autoridades que podem fazer alguma coisa. É importante que se fortaleça [o debate] porque muitas mulheres ficam com vergonha de falar. Elas acham “sou só eu”. Acho que, de cada 10 mulheres da região, 5 já passaram por algum tipo de violência, não de porrada, tudo mais, mas de colocar pra baixo, de não deixar a mulher sair para trabalhar, de não deixar ter amizades. Eu passei por isso e agora está sendo muito importante pra mim participar da associação do Cangula, porque abriu meus horizontes”, relatou Jailma Pereira, que cobrou ações efetivas.

Foto: Lázaro Zachariadhes
Na roda de conversa, a Policial Militar Maria Augusta Carvalho falou sobre a importância da Lei Maria da Penha e a coordenadora Evani Lima, do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), discorreu sobre a atuação da diretoria de Reparação Social da SEMAS e salientou canais de atendimento e a equipe multidisciplinar que atua no acolhimento e na assistência às mulheres, em Alagoinhas.
Também participaram da roda de conversa Claudemir da Paixão Carvalho, o “Dinho”, representando o vereador Cleto dos Santos, Valcineide de Santana, vice-presidente da associação, Taís Jesus Ferreira, coordenadora do curso de Educação Física da UNIRB, José Santos de Santana, do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável (CMDS) e, representando a Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo (SECET), Jorma Freitas e Diana Rodrigues.
Os representantes de instâncias municipais registraram as solicitações e reivindicações da comunidade e garantiram encaminhamentos para as questões apontadas. A Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) enfatizou que a intenção é promover novos debates, ampliar as discussões e fomentar iniciativas junto à comunidade.
Confira as fotos:

Foto: Lázaro Zachariadhes

Foto: Lázaro Zachariadhes

Foto: Lázaro Zachariadhes

Foto: Lázaro Zachariadhes

Foto: Lázaro Zachariadhes

Foto: Lázaro Zachariadhes

Foto: Lázaro Zachariadhes

Foto: Lázaro Zachariadhes

Foto: Lázaro Zachariadhes