As estantes metálicas, repletas de livros e caixas de documentos, chegam até o teto. Na sala pequena, formam estreitos corredores, por onde só é possível passar se esgueirando de lado. Onde muitos só veem papel, poeira e mofo, Robério Pimenta vê os fatos e eventos que fizeram a história de Alagoinhas.
Coordenador da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo (SECET), Pimenta começou há cerca de um mês o trabalho de restauração dos documentos, jornais, cartas e fotografias do Arquivo Municipal de Alagoinhas. O trabalho foi um pedido especial da secretária da SECET e vice-prefeita, Iraci Gama.
“A professora Iraci Gama e o governo Joaquim Neto são muito sensíveis à causa da preservação e da conservação desse material. Professora Iraci já conhecia o meu trabalho pela preservação da história de Alagoinhas e por isso me chamou”, conta Pimenta.
Em pouco mais de 30 dias, o graduando em História já recuperou, higienizou e organizou mais de 500 fotografias. Em sua maioria, as fotos registram importantes acontecimentos políticos das décadas de 1970 e 1980, como posses de prefeitos, desfiles cívicos, inaugurações e eventos da Prefeitura.
Registros ainda mais antigos fazem parte do acervo. Atualmente, Pimenta está trabalhando na classificação de uma ata datada de 1857. No documento, ele já conseguiu identificar os nomes de importantes personalidades políticas da época, como o Comendador José Moreira de Carvalho Rego e o Coronel José Joaquim Leal. O último Pimenta conhece bem, devido à pesquisa que conduziu sobre a família Teixeira Leal, no acervo da Fundação Iraci Gama (FIGAM).
Cartas datadas de 1934, de Juracy Magalhães ao Prefeito Mário da Silva Cravo, pai do artista plástico Mário Cravo Junior, mostram a proximidade do então interventor do Estado da Bahia com os assuntos da cidade. Em uma das cartas, Juracy Magalhães discute a instalação de uma estação de rádio em Salvador e os benefícios da empreitada para os demais municípios. Em todas elas Juracy Magalhães se refere a Cravo como “Prezado Amigo”.
Jornais e revistas do início do século XX também foram resgatados, a exemplo de uma edição do Jornal Patria Bahiana, de 1913, encontrado dentro de um livro da década de 80. “Este jornal foi fundado em 1910 por José Alfredo de Araújo. O mesmo que liderou uma grande greve de ferroviários, em 1909, de proporções nacionais”, explica Pimenta.
Outra greve dos ferroviários, que aconteceu na década de 1960, está bem documentada no Arquivo Municipal, com a relação de todas as reivindicações da categoria dos ferroviários à administração da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro. Pagamento de diferenças salariais, normalização de horas extras e instalação de dormitórios estavam entre as solicitações.
No momento, estes e outros documentos ainda não são acessíveis ao público geral, devido ao estado frágil em que se encontram. Contudo, ao final do trabalho de recuperação, limpeza, identificação e catalogação do material, a SECET pretende abrir o Arquivo Municipal para a visitação de escolas e pesquisadores. O acervo também deve ser digitalizado e disponibilizado na internet.