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Terreiro Unzó de N’Dicundá Nisalunda Keuase reabre suas portas para as cerimônias de 51 anos e de sucessão de cargo


7 de fevereiro de 2023, 19:13


NDandalunda (Oxum) e Bamburucema (Iansã), são entidades que representam as forças da natureza: água doce, dona dos rios e cachoeiras e ventos e tempestades, respectivamente. Quando os atabaques tocam o ijexá, o público nos terreiros aumenta a cadência das palmas. E foi esse o clima que tomou o Unzo de N’Dicundá Nisalunda Keuase, ao reabrir suas portas nos últimos dias, 04, 05 e 06 de fevereiro.

 

 

A festa foi preparada e executada com cuidado, pois há muito o que comemorar: o templo religioso antigo na cidade de Alagoinhas, mas desconhecido pela maioria da população, foi reaberto após 1 ano de luto pelo falecimento de sua última Mãe de Santo Dicundá (Mãe Dilza). O Unzó também reabriu as suas portas para as cerimônias de 51 anos de Mametu Dandalunda e do Kijngo Luvalú (Sucessão do Cargo).

 

 

“É uma honra levar o nome de minha Mãe para mais trinta, quarenta, cinquenta anos, para as gerações futuras que estão chegando. Vamos reabrir com todas as honras”, declarou a sacerdotisa Bárbara, que assumirá o posto de Mãe de Santo do terreiro. Segundo ela, quem quiser fazer parte do Unzó precisa conhecer o lugar, a raiz, visitar e se sentir bem. Mãe Bárbara explicou que a função que irá assumir consiste em continuar as obrigações dos seus antepassados, dar seguimento aos novos filhos e manter a tradição que foi deixada. “Nada pode ser diferente. Uma pedra não pode ser retirada do lugar. Tudo tem que ser como era antes. Ou seja, manter a tradição de verdade”.

 

 

O Táta Ndenguê do terreiro, Lucas Gogó de Ouro (Lorundėwamin), um dos herdeiros da grande família, destacou a importância dessa cerimônia. “Hoje está acontecendo a reabertura da casa e os 51 anos de iniciação da fundadora, juntamente com a obrigação de entrega de cargo à sucessão. É de suma importância a gente validar, após um ano de luto, a importância religiosa, a importância matriarcal que minha vó deixou enquanto mulher, enquanto religião preta, religião que acolhe toda a diversidade. Então, hoje é um marco pra Alagoinhas – uma casa com 30 anos de fundada e dando continuidade ao legado”. Consagrado à Oxum e Oxaguiã, ele esteve responsável pelos ritos religiosos da casa até que a nova liderança fosse oficialmente escolhida, e comandou a espera de 01 ano pelo fim do luto.

 

 

Para Leandro Santos, coordenador de Política de Promoção da Igualdade Racial da Diretoria de Direitos Humanos da Secretaria de Assistência Social (SEMAS), a celebração representa um momento de muito respeito em Alagoinhas. “É importante essa oportunidade de estar dando visibilidade ao povo da religião de matriz africana (Candomblé). Por ser uma religião que trouxe a liberdade dessa nação, por ser uma das religiões que mais sofre com a intolerância religiosa, com o racismo, com o preconceito, é extremamente importante a Prefeitura de Alagoinhas, por meio da SEMAS, tornar visível a importância dessa religião e desses povos”, enalteceu.

 

A secretária de Cultura, Esporte e Turismo Iraci Gama esteve presente no terceiro e último dia de festa. De acordo com a gestora, a tradição é um dos elementos mais importantes nos terreiros do candomblé, uma vez que o respeito aos ancestrais é um dos pontos de fundamento da religião, “que continua sendo discriminada pelos que são preconceituosos e são discriminadores por ignorância”.

Para a secretária Iraci, o conceito de casa no candomblé é uma das características mais salutares, pois *”não é a casa de uma pessoa ou de uma só família, é uma casa que abriga todos que comungam com aquele mesmo ideal, daí seus sacerdotes são chamados de pai de santo ou mãe de santo, pela responsabilidade com aqueles adeptos – que também têm a potencialidade da comunicação com esses seres invisíveis. Todos são abrigados naquele recinto, com uma pessoa responsável pelo terreiro e por todas aquelas pessoas que participam da vida comunitária do terreiro”.

 

 

A Secretária lembrou que, por meio de uma parceria da SECET com a SEMAS, foi feita uma identificação desses espaços, com a intenção de trazer benefícios garantidos pela constituição para todos os templos religiosos, como a isenção do IPTU. “Conseguimos identificar 103 terreiros de candomblé em Alagoinhas, que são considerados por nós templos religiosos, com direito a usufruir dessa vantagem constitucional, por isso, preparamos um certificado que garante ao responsável esse direito”.

 

 

A secretária Iraci adiantou que a SECET está preparando um ato para o dia 21 de março, para demonstrar a disposição de respeito, de consideração e de valorização, “já dentro dessa nova legislação que o presidente Lula assinou, declarando este o Dia das Nações do Candomblé”.

 

 

Durante as festividades também foi realizada uma palestra, por meio da Coordenação de Políticas de Proteção à Mulher. O Terreiro de Candomblé da Nação Angola fica em uma casa, cuja fachada esconde um imenso quintal, com muitas plantas de todos os tipos, localizada na Rua Carlos Azevedo, nº 324, bem no Centro da cidade.

 

 

 

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