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Valorização da cultura e preservação da memória: construída na área próxima à agricultura familiar, casa de farinha tradicional recebe visitantes na Expo Alagoinhas


2 de novembro de 2018, 16:47

Tem gente que chama de mandioca, manaíba, macaxeira, maniva, aipim e a variação – quase sempre regional – acaba denunciando as particularidades da cultura e da tradição. Foi com foco em valorizar os trabalhadores rurais e despertar a atenção das pessoas para as tradicionais casas de farinha da região que a Prefeitura, através da Secretaria de Agricultura, acrescentou, este ano, uma nova construção à área direcionada à agricultura familiar na Expo Alagoinhas.

Ao lado da casa de taipa, com paredes de barro, fogão à lenha e chão de terra, construída pelas mãos cuidadosas do agricultor baiano César Silva Moura, foi estruturada uma vizinha de portas abertas, totalmente equipada aos moldes tradicionais para a farinhada que vira massa, goma, beiju.

E então o cocho, a prensa, o forno e o rodete – montados no Parque de Exposições com o apoio de agricultores como José Linaldo, o “Zeca”, presidente da UARA – ganham outra história se contados a partir da perspectiva de quem, desde cedo, aprendeu a trabalhar com a produção e o processamento da mandioca.

“Eu posso dizer assim ‘eu nasci os dentes dentro das casas de farinha’. Agora com 6 anos é que a gente vai começando a assimilar as coisas. Mas, com 5 anos, eu já estava raspando mandioca”, disse Zeca, que continuou “aquele rodete tem 57 anos, veio de meu avô e a gente guarda como uma relíquia em casa”, revelou.

A peça traz uma história que perdura na memória e na trajetória de desenvolvimento da cidade. “Meu bisavô tinha casa de farinha, passou para o meu avô e assim continuou. Tinha uma prensa que hoje não existe mais, que a gente enrola 2 cordas e vai puxando. Todo mundo na família fazia, trabalhando todo mundo junto. Casa de farinha é coletividade, casa de farinha é um mutirão”, ressaltou Linaldo sobre a cultura da farinhada.

Para Neuma de Jesus Silva, não é apenas uma história que se repete, mas que permanece atual, ainda que com as particularidades e enquadramentos de um novo período. “Eu aprendi com minha mãe, que agora está com 75 anos, e com minha avó. Para eu conseguir a goma, eu tiro a mandioca da terra, raspo, tiro a casaca, lavo. Antigamente, a gente ralava manualmente. Hoje já é elétrico, não é mais no rodete. Faço no motor. Depois que eu ralo, vira uma massa, que eu coloco na água, em sacolas de nylon. Vou jogando água até sair toda a goma. Então eu pego um pano, passo, para não ficar o excesso da massa, e deixo de um dia para o outro. No dia seguinte, retiro a água e, no final da vasilha, está a goma. Coloco em térmicas e vou conservando. Todo dia, tiro a água da goma e trabalho”, explicou.

Com a técnica passada de geração para geração, as casas de farinha resistem, perduram e alimentam. Da manaíba plantada saem produtos para a comercialização. E os 100 litros de goma que Neuma faz mensalmente, no trabalho da casa de farinha, rendem beiju seco, beiju molhado, farofa, tapioca, sequilho.

“Isso foi uma coisa que eu aprendi lá do período de minha avó, hoje já falecida, de minha mãe, e eu procuro preservar os ensinamentos que me passaram. É um processo. Cansativo, trabalhoso, mas que vem de geração para geração. Me sinto feliz por fazer a mesma atividade que minha mãe e minha avó faziam”, enfatizou, orgulhosa.

No total, o município conta hoje com mais de 200 casas de farinha, sem contar as casas de beiju. Das mais rústicas às mais modernas, essas casas contam a história das mãos por onde passaram e de tudo o que está para além delas.
E a atividade que vira renda para muitas famílias vem de uma matéria-prima tradicionalmente cultivada do Brasil, que remete à origem indígena do povo, à cultura e à tradição.

De acordo com a Secretaria de Agricultura, trazer este espaço, em 2018, para a feira, e contar essa história, não apenas às crianças da rede municipal, que fizeram uma visita guiada durante a semana, mas às pessoas, de uma forma geral, é também contribuir para a valorização desses produtores e apoiar o desenvolvimento desta esfera.

Segundo levantamento do portal Governo do Brasil, a agricultura é hoje um dos principais faturamentos anuais do mundo quando o quesito é produção familiar. Gerando um total de US$ 55,2 bilhões por ano só com esse tipo de produção, o Brasil ocupa posição de destaque no agronegócio mundial, conquistando a 8ª colocação entre países como China, Rússia, Indonésia e Japão.

Para se ter uma ideia, a agricultura familiar produz 70% do feijão nacional, 87% da mandioca e quase 50% do milho. Na Bahia – unidade da federação com maior número de agricultores familiares do Brasil ¬– são mais de 665 mil estabelecimentos rurais de agricultores responsáveis, por exemplo, por 90% da mandioca plantada em todo o estado.

“Temos um potencial econômico muito grande nessa área. É preciso lembrar que a farinha de mandioca compõe vários pratos da culinária brasileira e que é responsável por matar a fome em muitas regiões do país. Nossa região tem uma tradição muito grande das casas de farinha, então imaginamos que trazer esse espaço de visitação à Expo Alagoinhas pudesse contribuir para trazer visibilidade e valorização a essa atividade tão importante que diz sobre a cultura e a identidade da nossa região”, comentou o secretário de agricultura Geraldo Almeida.

O espaço fica aberto ao público até este domingo (4). O visitante que tiver interesse, ainda pode aproveitar a oportunidade para se deliciar no beiju preparado dentro do local, totalmente equipado segundo os moldes das casas de farinha tradicionais.

 

 

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